Informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo indicam que 1,7% dos efetivos das forças policiais paulistas — policiais militares e civis, além de integrantes do Instituto de Criminalista (Polícia Técnica) — precisaram em algum momento ser afastados de suas funções por causa da pandemia do novo coronavírus. A SSP tem hoje cerca de 130 mil integrantes, o que leva a mais de 2.200 policiais do Estado de São Paulo contaminados em um ano de pandemia. Segundo a Secretaria de Segurança, no período morreram 74 funcionários.
“Há anos, falamos que nossa Polícia Civil está defasada em um terço do efetivo e, por certo, os afastamentos dificultam todo tipo de trabalho, inclusive o levantamento sério sobre as condições de saúde dos policiais, que sempre estão na linha de frente em toda situação, inclusive na pandemia e sem previsão de prioridade de vacinação”, afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Polícia Civil de Campinas e Região, Aparecido Lima de Carvalho.
Diante do temor pela situação, há esforços visando a diminuição de vítimas presentes nas delegacias e distritos da Polícia Civil. As vítimas estão sendo orientadas a usar a Delegacia Eletrônica, deixando as Centrais de Flagrantes e outras unidades físicas para situações graves, como casos de assassinatos e estupros, por exemplo, onde é indispensável o comparecimento de testemunhas e vítimas.
Por outro lado, o esforço para diminuir aglomerações é praticamente inútil, pois as forças policiais são convocadas para operações especiais, a maioria delas para atender situações provocadas pela própria pandemia.
“Polícia não é robocop. Somos de carne e osso, adoecemos, não somos de aço e não estamos imunes a nenhuma situação, como é o caso da pandemia, que há mais de ano está matando milhões de pessoas no mundo, centenas de milhares delas aqui no Brasil”, disse um delegado de polícia, sem autorizar que seu nome fosse publicado. Ele afirmou que há casos de importantes delegacias de Campinas e da Capital que já tiveram surtos de covid, com vários policiais afastados, inclusive de cargos de chefia. “É assunto de saúde pública, que precisa ser tratado com transparência, mas admito que infelizmente temos de viver sob a cortina do anonimato, preocupado com a saúde e com alguma represália. No mínimo, o que esperamos é que a vacina venha já!”.
A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP) alerta que policiais não interromperam suas atividades e nem puderam fazer home-office, mantendo o atendimento à população e o trabalho de investigação sem prejuízos à sociedade, apesar dos riscos.
“Por essa razão, incluir os policiais nos grupos prioritários de vacinação significa proteger a sociedade e manter ativo o combate à criminalidade. Muito longe de privilégio, trata-se de uma questão de reconhecimento e justiça.”, disse o presidente da entidade, Gustavo Mesquita Galvão Bueno. Segundo ele, no ano passado, morreram mais policiais em decorrência da covid-19 do que em confrontos com criminosos. “O combate à criminalidade é enfraquecido com uma polícia adoecida”, ressaltou.
A ADPESP ressaltou que, durante toda a pandemia, colaborou com a Polícia Civil na preservação da saúde dos policiais. A entidade angariou e distribuiu equipamentos de proteção e também entrou com uma ação judicial para garantir que os policiais sejam incluídos no cronograma prioritário da vacinação contra a covid-19. Segundo a ADPESP, em 2020, 1.643 policiais civis foram afastados em decorrência da covid-19 e houve 21 falecimentos no Estado. Números mostram que Polícia Civil de São Paulo tem atualmente cerca de 28.500 policiais civis e déficit de 14 mil profissionais.
A Secretaria da Segurança Pública esclareceu que todo policial com suspeita ou diagnóstico da covid-19 foi ou está devidamente afastado, conforme orientações do Comitê de Contingência do coronavírus.
A SSP disse que acompanha o quadro clínico, fornecendo todo o suporte necessário para a recuperação de seus agentes. Informa ainda que pasta tem adquirido e distribuído Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), máscaras e luvas, para os agentes de segurança.
Sem vacina, policiais enfrentam infecção e morte pela covid-19
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