O emprego de mão de obra prisional e a ajuda de parceiros da iniciativa privada e da comunidade local possibilitaram a reestruturação da unidade que ganhará novas vagas
Em tempos de escassez de recursos financeiros a administração proativa dos diretores de unidades prisionais se torna essencial para vencer os desafios diários da rotina de trabalho. Foi isso que o diretor geral do Presídio de Mariana, localizado na região central, fez. A despeito da falta de recursos, Antônio de Pádua Pataro Dutra Júnior, que está à frente da unidade a pouco mais de um ano e meio, comemora o aumento de 20% da capacidade da unidade com o término das obras de ampliação, previstas para o próximo mês.
A unidade prisional, que atualmente tem capacidade para atender 108 presos, passará a contar com 129 vagas. Além da ampliação com a construção de novas celas, o presídio ganhou uma nova faixada com a obra de uma muralha, em substituição à grade que dava acesso à entrada principal da unidade. O muro que circunda a unidade também foi aumentado, ampliando a segurança do presídio e impedindo a visibilidade para o interior da unidade.
Antes Depois
E quem coloca a mão na massa para mudar a estrutura da unidade são os próprios presos. Ao todo, 17 detentos do Presídio de Mariana trabalham: sete dentro da própria unidade em atividades diversas e outros dez em uma parceria com a prefeitura municipal nos setores de limpeza urbana, manutenção elétrica e transportes.
Cláudio Paulo Margarida, de 61 anos, é um deles. Ele trabalha há oito meses como mecânico no setor de transporte da prefeitura e é responsável pela manutenção de veículos oficiais do município. Em dois meses ganhará a liberdade e os dias de trabalho ajudam este tempo a passar mais rápido. “Esta é uma excelente oportunidade para o preso, pois além de ocupar de forma construtiva o tempo, é possível ainda aprender sempre algo novo e ser útil para a comunidade”, disse Cláudio.
O diretor-geral acredita que apesar das dificuldades orçamentárias, as parcerias contribuem substancialmente para a melhoria da unidade. “As obras são possíveis graças à participação de comerciantes locais, apoio da prefeitura do município, igrejas e da comunidade de Mariana, que entende a importância do trabalho de ressocialização e segurança que estamos desenvolvendo”, ressalta Pataro. Ele conta que uma das soluções criativas encontradas foi a de reforçar a área da carceragem com trilhos de ferro doados pela Vale do Rio Doce.
De detento a estudante e empreendedor
José Crispim de Oliveira, 52 anos, cumpriu pena no Presídio de Mariana. Ele é um exemplo de força de vontade na busca da reintegração social. Enquanto ainda estava preso participou em 2016 do Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade, o ENEM PPL, e, graças à nota alta que obteve em redação, foi aprovado no curso de serviço social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Atualmente ele está no terceiro período do curso e é grato pela oportunidade de estudar dentro da unidade prisional. “Graças ao trabalho sério desenvolvido pelos técnicos da Seap, à atenção dos professores e às oportunidades oferecidas pela direção do presídio eu consegui uma nota alta no exame, o que possibilitou meu ingresso em um curso superior na primeira chamada”.
Além de universitário, ele também se tornou empreendedor. Após o cumprimento da pena José Crispim começou a produzir blocos de cimento para a construção civil. A surpresa vem com a atitude do ex-detento, que agora doa blocos para as reformas da unidade na qual esteve acautelado. “Vejo a importância de ajudar doando blocos de construção para as obras realizadas no Presídio de Mariana, na medida em que a contribuição mantém um grupo maior de presos em atividades laborais, e é uma forma de reconhecimento pelo trabalho lá realizado”.
Texto: Rangel de Oliveira
Fotos: Dierceu Aurélio/Arquivos Seap