A informação foi confirmada em pronunciamento da Polícia Civil, feito pelo delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena, que apura o suicídio
A Polícia Civil de Minas Gerais investiga a possibilidade de indução ao suicídio da escrivã Rafaela Drumond, de 32 anos, na cidade de Antônio Carlos, na região do Campo das Vertentes. A informação foi confirmada durante pronunciamento da instituição na manhã desta quinta-feira (15). “A gente tem que investigar todas as situações para ver se houve ou não essa indução ao suicídio. É natural dessa investigação”, afirmou Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena e responsável por coordenar a investigação do caso.
Conforme o delegado, a apuração teve início logo após a confirmação da morte da escrivã, no dia 9 de junho. No domingo seguinte ao fato, dia 11 junho, a polícia teve acesso a vídeos e áudios que indicam que a servidora era vítima de assédio moral no exercício da profissão. Esse material, conforme o delegado, é analisado pelos investigadores.
“Todos os vídeos e áudios que podem servir de provas, sejam aqueles que vimos em rede social ou aqueles que recebemos, nós encaminhamos para as equipes da investigação. Eu tive conhecimento sobre um desses vídeos e encaminhei para a equipe que preside a apuração para realizar o trabalho”, garantiu o delegado.
Apesar das denúncias de assédio moral, desde o início do trabalho de investigação não houve o afastamento de servidores da instituição. No entanto, materiais foram apreendidos, como o celular da escrivã, e diligências foram realizadas na cidade de Carandaí, onde Rafaela Drumond atuava.
“Temos que pensar antes de afastar alguém. Um mero afastamento sem lastro legal pode ser judicializado. O inquérito policial irá chegar nessa resposta no tempo certo. Tudo isso é feito por etapas”, justificou.
Saúde dos servidores e precariedade na instituição
O autoextermínio da escrivã Rafaela Drumond, de 32 anos, da Polícia Civil de Minas Gerais, lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata, com circulação de áudios indicando pressão psicológica e assédio moral, acendem um alerta para um quadro muito mais profundo dentro da corporação: falta de estrutura e consequente deterioração da saúde mental dos servidores. Um problema que segundo o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindpol-MG) é consequência de uma soma de fatores: falta de equipamentos e as condições inadequadas de serviços das delegacias, além da falta de cerca de 7 mil servidores na instituição.
Realidade essa que é confirmada pelo delegado-geral Antônio Carlos de Alvarenga, que atua na Divisão de Polícia Interestadual (Polinter). Conforme Alvarenga, a instituição tem defasagem de 50% na quantidade de escrivães, 45% de investigadores, 42% de delegados e de 35% de peritos. Situação que compromete a investigação dos crimes, com cerca de 10% dos casos apurados, e provoca sobrecarga de trabalho, com o consequente adoecimento dos servidores.
Para o delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena, a unidade de Carandaí, onde a escrivã Rafaela Drumond estava lotada, oferecia condições adequadas para que as equipes realizassem os trabalhos. “É uma delegacia que possui estrutura condizente ao trabalho policial”, garante.
Assédio como causa da morte da escrivã
Após a morte da escrivã Rafaela Drumond, vídeos e áudios como relatos de assédio moral e machismo começaram a circular entre servidores e pessoas próximas à profissional. O material teria sido deixado por ela, como forma de denunciar pressão psicológica e assédio moral.
Em um dos materiais recebidos pelos investigadores, a escrivã teria sido vítima de assédio moral, machismo e de ameaças. O suspeito das violências teria sido um servidor com cargo superior ao exercido por ela. “Eu te chamei de piranha. Risos. É muito cabecinha fraca, é muito cabecinha fraca. (….) Eu não bato em mulher, mas se você fosse homem, uma hora dessa, ou eu ou você, estava morto”, indica trecho de um dos vídeos.
Após ter acesso ao material, o Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindep-MG) se manifestou cobrando investigação do caso e a realização de uma audiência pública para esclarecer o ocorrido. Conforme a associação, outros servidores lotados na mesma região também são vítimas dessas violências.
“Os policiais estão adoecendo de forma muito perigosa e o cuidado com a saúde mental de nossos profissionais não tem chamado a atenção das autoridades responsáveis. A polícia está doente e quem deveria cuidar desses valorosos policiais está fingindo não ver”, destaca o sindicato.
Conforme o delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena, não há registros formais referentes a casos de assédio moral na região. No entanto, as investigações buscam identificar se esses episódios de violência foram relatados em alguma oportunidade.
“Não chegou nenhuma reclamação formal ao meu conhecimento, mas o inquérito policial verifica isso. Se houve algo e em que consistia essa denúncia”, disse o delegado, que afirmou que a investigação ocorre de forma isenta e profissional. “A minha gestão é de portas abertas. Temos hierarquia e disciplina em que temos que obedecer algumas regras. Mas sempre estive disponível aos policiais”, acrescenta.
Autoridades em alerta
A morte da escrivã Rafaela Drumond será tema de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A reunião deverá ocorrer na primeira semana de julho, em data ainda a ser definida. A realização da audiência foi determinada na última terça-feira (13 de junho), após requerimento do deputado Sargento Rodrigues (PL), durante encontro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa.
Devem comparecer nesta assembleia a Chefe de Polícia Civil, Dra. Letícia Gamboge, o Secretário de Estado de Governo, Igor Eto, e a Secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto.
A morte de Rafaela
Rafaela Drumond, de 32 anos, foi encontrada sem vida pelos seus pais na casa da família em Sá Forte, distrito de Antônio Carlos, na região do Campo das Vertentes. A escrivã, lotada no município de Carandaí, foi vítima de suicídio.
O caso é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais. Conforme a instituição, um procedimento disciplinar e um inquérito policial foram instaurados para apurar as denúncias referentes aos fatos.
“A Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária (SIPJ), por meio da Inspetoria-Geral de Escrivães, além de uma equipe da Diretoria de Saúde Ocupacional (DSO), do Hospital da Polícia Civil (HPC), estão no município de Carandaí para acolhimento e atendimento dos servidores”, disse a instituição afirmando que prestou condolências aos familiares, amigos e colegas da escrivã.
Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/policia-investiga-possibilidade-de-inducao-ao-suicidio-em-morte-de-escriva-em-mg-1.2888934