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Morte de escrivã completa 50 dias, e família pede transparência nas apurações

por AMAFMG Agentes Fortes

A escrivã tirou a própria vida no dia 9 de junho; o celular dela foi apreendido, mas a perícia do aparelho ainda não foi concluída

“A impressão é que eles querem abafar o caso com panos quentes”. O relato é do aposentado Aldair Dumont, de 62 anos, pai da escrivã Rafaela Drumond, servidora da Polícia Civil de Minas que tirou a sua própria vida, no dia 9 de junho, em Sá Forte, distrito de Antônio Carlos, na região do Campo das Vertentes. A morte da escrivã, que completa 50 dias neste sábado (29), é investigada sob denúncias de assédio moral e sexual, o que pode ter induzido a profissional ao suicídio. “Até hoje não tivemos retorno se o celular dela foi periciado. Nada do que fazem é transparente”, completa o aposentado. 

A escrivã Rafaela Drumond tirou a própria vida no dia 9 de junho — Foto: Arquivo Pessoal

O aparelho celular da escrivã foi um dos materiais apreendidos pela equipe de investigação. O equipamento teria armazenado vídeos e áudios que podem servir como provas para os supostos casos de assédio em que ela teria sido vítima. A análise do equipamento deveria ter sido finalizada no final do mês de julho. No entanto, os investigadores pediram a ampliação do prazo para a realização da perícia, sendo atendidos pela Promotoria de Justiça de Carandaí, na região Central de Minas Gerais. Com a extensão do período, eles terão até o final de setembro para análise do celular da escrivã. 

A Polícia Civil diz que a investigação está sob sigilo, e não informou se ao menos iniciou a perícia do aparelho.  Um delegado e um investigador, que atuavam na mesma delegacia onde trabalhava Rafaela, são suspeitos de terem cometido os assédios. Em menos de 20 dias, eles chegaram a ser transferidos duas vezes. O investigador está afastado por licença médica durante 60 dias.   

“A gente sabe que a investigação está caminhando, mas não do jeito que a gente queria. Até hoje não tivemos o retorno da perícia do telefone. Esse prazo de 50 dias já foi mais do que suficiente para isso”, argumenta a advogada Raquel Fernandes, que atua na defesa da família da escrivã e afirma se encontrar com as equipes de investigação semanalmente. Ela questiona a demora na análise técnica do aparelho celular, que deveria ser concluída até o final do mês de julho. “Houve um pedido para o prazo ser ampliado e o promotor aceitou. Não há nenhuma ilegalidade nisso, mas me causa muita estranheza toda essa demora”, acrescenta.

A investigação sobre a morte da escrivã Rafaela Drumond é conduzida pela Corregedoria Geral da Polícia Civil de Minas Gerais. Conforme a instituição, o inquérito policial e o procedimento disciplinar, que apura os supostos casos de assédio moral e sexual, que podem ter induzido a servidora a morte, estão sob sigilo. “Diversas pessoas foram ouvidas e diligências foram realizadas com o objetivo de esclarecer os fatos”, disse a polícia, em nota. Entres os depoimentos colhidos estão os do delegado e do investigador. Eles foram ouvidos há exatamente um mês na delegacia de Barbacena, no Campo das Vertentes.

Outra pessoa ouvida durante as investigações é uma servidora que atua na Delegacia Regional de Polícia Civil de Conselheiro Lafaiete, local para o qual o delegado e o investigador suspeitos de terem assediado Rafaela Drumond foram transferidos pela primeira vez, no dia 23 de junho. A mudança do delegado foi “a pedido”, enquanto a da investigador por determinação da polícia. As transferências ocorreram um dia após as investigações ficarem a cargo exclusivamente da Corregedoria Geral da Polícia Civil, em Belo Horizonte. Inicialmente, a delegacia de Barbacena era responsável por conduzir o caso.

“Foi um absurdo a transferência deles para a delegacia de Lafaiete. Uma das testemunhas trabalha lá, não sabemos se ela foi ameaçada ou não”, avalia a advogada Raquel Fernandes. A responsável pela defesa da escrivã Rafaela Drumond também questiona a mudança dos servidores para as delegacias de Campo Belo e de Congonhas, no dia 12 de julho. “São cidades próximas de Carandaí, e isso não dificulta o acesso deles a provas e testemunhas. O ideal é de que eles fossem afastados, e não com esses pedidos de licença médica. Eles entraram com esses pedidos, mas não sabemos o teor deles”, argumenta.

Os questionamentos da advogada reforçam o temor da família. Pouco depois dos casos de assédio virem à tona, o pai da escrivã Rafaela Drumond, o aposentado Aldair Drumond denunciou que a família teria sido vítima de coação da polícia. Uma viatura teria circulado pelas ruas próximas a casa e a loja onde trabalha a sua outra filha, irmã da escrivã que suicidou no dia 9 de junho.

“Eu tenho receio, tenho medo”, desabafa o idoso. Para ele, o sentimento de insegurança se soma ao de abandono, por causa da falta de respostas quanto as investigações, e ao luto, devido a perda da sua filha. “Parece que estou no purgatório. Imagina a pressão que a minha filha passou com esse assédio velado? Para ela chegar nesse ponto, de tirar a própria vida, ela passou por um inferno”, acrescenta. 

Em relação ao questionamento da família sobre a demora nas investigações, a Polícia Civil de Minas Gerais afirma que “para a adoção das medidas legais cabíveis, seja no âmbito criminal ou administrativo, mostra-se necessária a finalização dos procedimentos investigativos”.

Veja a nota da Polícia Civil de Minas Gerais

“A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que o inquérito policial e o procedimento disciplinar que apuram as circunstâncias da morte da escrivã de polícia Rafaela Drumond e eventual transgressão disciplinar estão em tramitação, sob sigilo, na Corregedoria-Geral. 

A PCMG esclarece que, no curso das investigações, diversas pessoas foram ouvidas e diligências outras foram realizadas com o objetivo de esclarecer os fatos. Para a adoção das medidas legais cabíveis, seja no âmbito criminal ou administrativo, mostra-se necessária a finalização dos procedimentos investigativos. 

Outras informações serão divulgadas após a conclusão de todos os procedimentos de polícia judiciária”

FONTE: https://www.otempo.com.br/cidades/morte-de-escriva-completa-50-dias-e-familia-pede-transparencia-nas-apuracoes-1.3094671

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