O surgimento da pandemia ocasionada pela Covid-19 vem modificando constantemente a rotina da população mundial, principalmente dos médicos (afetando de simples consultas à cirurgias). Incertezas em torno do modo de transmissão e da grande diferença de manifestação clínica em pacientes, onde alguns são assintomáticos e outros se apresentam gravemente enfermos, têm obrigado o mundo a agir de forma diferente. E a área médica é a mais diretamente afetada.
Em uma época onde a grande maioria da população pode estar infectada mudanças na rotina cirúrgica de todos os hospitais foram implementadas. A princípio, cirurgias eletivas foram canceladas e postergadas e cuidados novos e extensivos de proteção foram protocolados para segurança dos profissionais e dos próprios pacientes.
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Normas cirúrgicas na pandemia por Covid-19
As novas normas implementadas para pacientes que serão submetidos a cirurgias, tanto eletivas como de urgência, quando há tempo hábil, estão seguindo protocolos rígidos de diagnóstico e conduta em relação ao Covid-19. Todos os pacientes que serão submetidos a algum procedimento invasivo devem obrigatoriamente serem testados para Covid-19. Se o paciente em questão apresentar qualquer evidência de infecção pelo vírus, seja por um teste positivo ou por sintomas sugestivos ou por contato direto com pessoas ou lugares suspeitos, o procedimento se possível deve ser suspenso a fim de evitar contaminação desnecessária.
Em decorrência da baixa sensibilidade dos testes atuais, onde há uma acurácia de 60% para swabs nasais e 31% para swabs faríngeos, todos os pacientes que adentrarem o centro cirúrgico são atualmente considerados como de risco, mesmo tendo um resultado negativo. E todas as precauções de contato devem ser tomadas. Mesmo os pacientes que já se recuperaram da infecção e apresentam testes de anticorpos IgG positivos também devem ser considerados de risco, uma vez que não há certeza de proteção definitiva e podem ser reinfectados. Portanto, é mandatório que todos os profissionais devam seguir as recomendações de proteção individual com uso de EPI completas.
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Precauções respiratórias em cirurgias
O Covid-19 é uma virose principalmente respiratória. Estudos vêm demonstrando que ela é facilmente transmitida por partículas aerossóis lançadas no ar. Essas partículas permanecem no ar ambiente principalmente em ambientes úmidos e mal ventilados. Estudos também comprovaram a existência de partículas de SARS-COV-2 na tubulação de ar condicionado. Além de também se mostrarem presentes na aerolização dos eletrocautéros cirúrgicos e dos gases anestésicos inalados. Esses fatores, somados ao fato da presença também em fluidos corporais, a equipe presente na sala de cirurgia está constantemente exposta a variáveis de contaminação em potencial. Por isso a necessidade indispensável de proteção.
Conclusão
O futuro do Covid-19 é ainda muito incerto. Mesmo em regiões onde ainda não foram comprovado casos, é muito cedo para se concluir qualquer coisa, uma vez que a incubação do Covid-19 pode levar semanas. E a rotina médica não pode parar.
Sendo assim, em algum momento as cirurgias precisam ser realizadas, uma vez que os pacientes cujos procedimentos estão sendo cancelados ou postergados irão começar a apresentar complicações ou progressão da doença em questão. O novo normal precisa ser implementado. A equipe do centro cirúrgico já tem o costume de trabalhar com equipamentos de proteção para possíveis contaminações laborais, pois estão em constante contato com fluidos e secreções corporais.
Portanto, precauções mais ostensivas em relação ao Covid-19 devem ser implementadas de uma forma constante e por um período de tempo indeterminado. Materiais de proteção específicos (EPI) devem ser estimulados a serem produzidos como rotina e protocolos de descontaminação e prevenção também. Os novos cuidados tanto de paramentação pessoal como de desinfecção ambiental e de material é uma nova realidade e deve ser considerado como o “novo normal” no ambiente hospitalar, principalmente nos setores onde ocorre grande manipulação das vias aéreas e fluidos corporais dos pacientes.
Cuidados paliativos em cirurgias de risco elevado
Autor(a):
Graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ⦁ Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Ministério da Educação (MEC) ⦁ Pós-Graduação em Anestesiologia pelo Centro de Especialização e Treinamento da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (CET/SBA) ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) ⦁ Ênfase em cirurgias de trauma e emergência, obstetrícia, plástica estética reconstrutiva e reparadora e procedimentos endoscópicos ⦁ Experiência em trauma e cirurgias de emergência de grande porte, como ortopedia, vascular e neurocirurgia ⦁ Experiência em treinamento acadêmico e liderança de grupos em ambiente cirúrgico hospitalar ⦁ Orientadora acadêmica junto à classe de residentes em Anestesiologia ⦁ Orientadora e auxiliar em palestras regionais e internacionais na área de Anestesiologia.
Referências bibliográficas:
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